Embora existam aqueles que pedem demissão e dizem: «Não fico mais aqui», não é isso que se dá com a maioria. O perigo dos que compõem a maioria, neste ponto, está justamente em resignar-se a continuar, mas sem ter mais ânimo nem esperança. Prosseguirão, mas nesse estado desesperador, indo como de arrasto… O perigo neste ponto é dizer algo semelhante a isto: «Bem, perdi aquilo que tinha e, obviamente, não voltarei a obtê-lo. Mas vou marchando e, por lealdade, continuarei marchando, por puro dever… Perdi a satisfação que tinha, a qual se foi e, sem dúvida, foi-se para nunca mais voltar. Tenho de ajustar-me a isso, resignar-me-ei ao meu destino, não serei desertor, não voltarei as costas para ele, prosseguirei, embora prossiga com sentimento de desesperança com relação à questão toda, arrastando-me estrada fora, e não caminhando com a esperança de outrora, mantendo-me, porém, da melhor forma que puder». Esse é o espírito de resignação, de estoicismo, talvez, de agüentar tudo a contragosto.
Eis, porém, o maior perigo de todos… algo que é perigoso não só no plano espiritual, a que se prende nosso interesse maior, mas também em todos os planos da vida. Podemos trabalhar desse modo em nossa profissão, podemos viver desse modo as nossas vidas… O que de fato estamos dizendo a nós mesmos é: «Passaram-se as horas douradas, os dias grandiosos pertencentes ao passado. Pode ser que jamais volte a ter tais experiências, mas hei de prosseguir». Naturalmente, há algo que parece maravilhoso nessa atitude, algo que parece heróico. Entretanto… é uma tentação do diabo. Se ele puder levar o povo de Deus a perder a esperança, decerto ficará contente. E este é talvez o maior de todos os perigos com que a Igreja cristã se defronta – o perigo de fazer uma coisa com espírito formal e como questão de dever. Ir avante é certo, mas a arrastar-se exausto, em vez de andar como devemos.
Extraído do devocional “Mensagem para hoje – Leituras diárias selecionadas das obras de D. M. Lloyd-Jones” – sob autorização da Editora PES
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